História da bruxa má
com as maçãs encarnadas,
da menina que estava sempre a dormir
e dos sete anõezinhos
Ou, para os sete anõezinhos:
A mudança de casa nova já velha
para a casa nova ainda nova
Parte 1
A história que vos vou contar passou-se há muitos e muitos anos numa aldeia perto de um rio, cheia de sol e com muitas casas vazias.
Nessa aldeia vivia, em constante mudança, uma bruxa muito indecisa, pois estava sempre a mudar de uma casa vazia para outra casa vazia. A razão destas mudanças era que a última casa vazia que a bruxa via era sempre melhor que a anterior casa vazia. Ora era mais barata, ora tinha raios de sol matinais, ora se cheirava melhor a brisa marinha, ora tinha mais espaço, ora ficava mais perto da casa da assembleia de bruxas, ora o armazenamento dos sinos era melhor, ora outra coisa qualquer.
Mas convém acrescentar que esta bruxa, além de ser bruxa pela sua actividade profissional tinha uma ocupação particular, gostava muito de tocar a sua colecção de sinos. E, apesar dos sinos terem uma aparência normal como todos os sinos que conhecemos, tinham um segredo que só a bruxa sabia. Esse segredo transformava esta bruxa numa bruxa muito má porque com eles obrigava os seus amigos, os anõezinhos, a trabalhar para ela afincadamente e só precisava de lhes oferecer um jantar de tempos a tempos para que o feitiço funcionasse.
Agora também eu sei o segredo dos sinos e vou-vos contar. Mas tem de ser baixinho, porque os segredos têm de ser contados baixinhos para mais ninguém ouvir.
Era nessas noites dos jantares da bruxa má que o feitiço dos sinos funcionava. Após todos terem comido ela obrigava os anõezinhos a deitar-se numa cama, um de cada vez, e começava a tocar os sinos numa sequência que só ela sabia, pois não deixava ninguém espreitar e só quem estivesse deitado é que os conseguia ouvir. O anãozinho que estava deitado ficava com os olhos tapados e não conseguia ver nada.
Este feitiço era tão forte que os anõezinhos mal se levantavam começavam a levar a loiça da mesa para a cozinha, começavam a lavar a loiça, começavam a limpar a casa, começavam a arrumar a casa, começavam a juntar o lixo e iam pô-lo à porta da rua, só paravam quando não havia mais nada para fazer na casa da bruxa má.
Continua...
Pepe
